Se você está sentindo uma desagradável sensação de déjà vu ultimamente, saiba que não está sozinho. Para quem conhece a história deles, a atual onda de leis anti-LGBTQ+ que assola os Estados Unidos parece estranhamente familiar. É como se já estivéssemos aqui antes, travando batalhas que achávamos já ter vencido.
Durante décadas, nossa comunidade viveu sob a sombra das chamadas "leis azuis" — regras ultrapassadas, originalmente sobre o descanso dominical, que se transformaram em armas para policiar nossas vidas. Elas ditavam quem podíamos amar, como nos vestir e onde nos reunir. Lutamos com unhas e dentes para desmantelá-las, e conseguimos. Mas agora, um novo pânico moral tenta nos arrastar de volta para a escuridão.


Mesmo roteiro, elenco diferente
Sejamos claros: este não é apenas mais um debate sobre "guerra cultural" para os noticiários a cabo. Como afirma o artigo original do Gaydar.vip, trata-se de um "ataque jurídico e político coordenado". A linguagem foi atualizada para o século XXI, mas o objetivo permanece o mesmo: controlar, censurar e criminalizar a existência queer e trans.
O novo manual é superficial, envolvendo a discriminação na linguagem de "direitos dos pais", "proteção à criança" e "liberdade religiosa". Mas, se você remover as camadas, encontrará o mesmo preconceito de sempre.
"Eles estão tentando nos proibir de existir por meio de leis, tornando impossível sermos nós mesmos em público", é um sentimento ecoado por ativistas como Chase Strangio, da ACLU, que está na vanguarda dos desafios legais contra essas leis.
Os números não mentem. A ACLU está atualmente monitorando mais de 500 projetos de lei anti-LGBTQ+ em legislaturas estaduais somente neste ano. É um esforço coordenado e impressionante que visa reverter décadas de progresso.
Da proibição de drag à censura em sala de aula
Os ataques vêm de todos os ângulos, criando um campo minado legal para pessoas LGBTQ+ e suas famílias:
- Arraste sob fogo: Estados como Tennessee e Flórida aprovaram leis com o objetivo de proibir apresentações drag em espaços públicos. Elas são vendidas como protetoras de crianças, mas sua formulação vaga ameaça qualquer apresentação pública que desafie as normas de gênero, essencialmente criminalizando a arte e a expressão queer.
- Ataques a vidas trans: A frente mais agressiva é a guerra contra a assistência médica para pessoas transgênero. Dezenas de estados proibiram ou restringiram cuidados de afirmação de gênero para jovens, e alguns estão até tentando estender essas proibições a adultos. Em estados como o Texas, pais solidários enfrentaram o pesadelo de serem investigados por abuso infantil simplesmente por seguirem as orientações médicas para seus filhos trans.
- A biblioteca não é segura: As leis "Não Diga Gay", que começaram na Flórida e desde então inspiraram projetos de lei semelhantes, estão eliminando qualquer menção à identidade LGBTQ+ das escolas. Livros estão sendo retirados das prateleiras e professores estão sendo forçados a se calar, temendo perder seus empregos caso sequer reconheçam a existência de pessoas queer.
O Fantasma da História: O Legado das Leis Azuis
Muito antes dessas novas leis, já existiam as antigas. Durante a maior parte do século XX, a lei não estava do nosso lado. As cidades tinham leis "anti-travestismo", que permitiam que você fosse preso por usar roupas não consideradas "apropriadas" para o seu gênero atribuído — um ataque direto às pessoas trans e não-conformes de gênero. Leis vagas sobre "moralidade pública" e "lascívia" eram usadas para justificar batidas policiais em bares gays, os mesmos santuários que nossa comunidade construiu para si mesma. Leis sobre sodomia tornavam nosso amor ilegal, nos rotulando como criminosos.
As leis atuais são descendentes diretas desse legado. Podem não usar a mesma linguagem arcaica, mas cumprem a mesma função: dizer-nos que a nossa existência é imoral e precisa ser legalmente contida.


Mas ainda estamos aqui e estamos lutando
Se há uma coisa que a história nos ensinou, é que a comunidade LGBTQ+ é resiliente. Não recuamos. Do primeiro tijolo em Stonewall às batalhas judiciais modernas, a resistência está em nosso DNA.
E está funcionando. Aquela proibição de drag no Tennessee? Um juiz federal a considerou inconstitucional. A lei da Flórida teve destino semelhante, bloqueada pelos tribunais. Influentes do direito como a Lambda Legal e a ACLU estão lutando contra esses projetos de lei em todo o país e vencendo batalhas importantes. Na prática, as comunidades estão se mobilizando. Redes de ajuda mútua estão ajudando pessoas trans a ter acesso a cuidados. Pais estão formando coalizões para se defender em reuniões do conselho escolar. Artistas se recusam a ser silenciados.
Como Kelley Robinson, presidente da Campanha pelos Direitos Humanos, costuma dizer, essa luta é mais do que apenas leis: é uma luta pela liberdade e pela própria alma do país.
“Vimos o que acontece quando ficamos em silêncio, então precisamos reagir. Não pedimos para ser tolerados. Precisamos exigir liberdade para viver, amar, criar filhos, atuar e existir sem medo.”
As forças que tentam nos empurrar de volta para o armário são barulhentas e bem financiadas, mas se esqueceram de uma coisa crucial: sabemos lutar. E não vamos a lugar nenhum.
Combustível para nossas fantasias
E agora, uma coisinha para nos lembrar pelo que lutamos: alegria, conexão e desejo incondicional. Confira Marcus McNeil e Angel Elias para CockyBoys.


* Foto de gaydar.vip